quinta-feira, 24 de março de 2011

Primeiras sessões de Fonoaudiologia

Finalmente o Guilherme está fazedno terapia e fonoaudiologia.
Hoje tivemos nossa terceira sessão na fono, e gostaria de dividir com quem passa por aqui.
A primeira consulta do Guilherme foi BEM DIFÍCIL, e ouso dizer, praticamente IMPOSSÍVEL.
Entrou na sala à muito custo e uma vez lá dentro, só sabia me puxar para irmos embora, com  verdadeiro terror daquele cubículo.
Nenhum brinquedo o interessava e menos ainda as nossas tentativas (minhas e da profissional) de chamar sua atenção. Como era uma sessão de entrevista, o dispensei aos cuidados de minha mãe e à Nelminha, uma espécie de "tia-irmã-prima-anjo-da-família-toda" que estavam na recepção tão ansiosas quanto eu.
Continuamos a entrevista para que a profissional ficasse a par da vida e evolução do pequeno até então, e de lá, eu o ouvia resmungar, mas ainda domável. Cerca de 10 minutos depois, ele encaminhou minha mãe até a sala onde eu estava, e ela na maior das inocências, achava que ele se acalmaria me vendo e poderia até aceitar ficar na sala (temos que tentar de tudo, né?). Ledo engano.
Guilherme protagonizou uma das crises mais desesperadas. Ele queria ir na sala na verdade para ME BUSCAR, e vendo a impossibilidade naquele dado momento, foi tirado da sala, e, uma sucessão de gritos, tapas, choro e muito nervosismo começou a acontecer do lado de fora.
Eu não consegui mais ter concentração, e controle algum sobre o que estava falando. Eu só queria que aquela entrevista acabasse e ir embora para que meu pequeno se acalmasse.
Quando finalmente a sessão foi encerrada, a visão na recepção foi constrangedora: minha mãe com o rosto vermelho e suada tentando contê-lo, Nelminha ajudando, a recepcionista visivelmente nervosa, mas sem saber o que fazer e tentando ajudar.
Quem convive com o autismo, sabe que quando eles precisam se comunicar, esses acessos de agressividade e birras podem acontecer, e não têm ligação ALGUMA com a questão da EDUCAÇÃO ou LIMITE. É importante falar disso, pois percebo SEMPRE olhares de reprovação, e SEI que é cultural esperar que uma criança com birra seja contida com uma "palmadinha educativa". Muito antes do diagnóstico do meu Gui, eu já era contra, e sob as circunstâncias as quais estamos, agora mesmo que não acredito na educação da agressão, mas essa é uma discussão pra outro momento.
Crianças autistas precisam que o foco do que o levou à agressividade e muita, mas MUITA paciência...exercício que venho praticando com dias de sucesso e outros nem tanto.
Na segunda sessão (cada uma dura cerca de meia hora) levamos cerca de 15 minutos convencendo-o a ir pra sala. Uma vez lá dentro, muitos estímulos e alguns tímidos resultados: pegou na bola, contou até dez e ao fim da sessão, mesmo cansando rápido das atividades e dos excessos de tentativas de estímulos exaustivos (todas PINGANDO de suor)  paras as três (eu, minha mãe e a profissional) , ele puxou a mão da profissional para sair JUNTO conosco até a saída.
A profissional solicitou que fizéssemos as sessões duas vezes por semana, para que não haja tanta resistência e para que as sessões sejam melhores aproveitadas, afinal, só uma vez por semana demora mais a gerar vínculo e empatia.
Pois bem. Até aí, eu estava achando e até questionando a experiência da profissional com autistas, pois SEI que não é fácil e que a técnica que funciona para uma criança autista, pode não funcionar para outra. Cheguei a ficar um pouco frustrada por conta da MINHA ansiedade...Até como profissional, eu SEI que os resultados são a longo prazo, e que existem muitas variantes para alcançá-los, inclusive PACIÊNCIA.
Hoje, fomos à terceira sessão. Engraçado que na porta da clínica, suspiramos juntas como em oração: "AI MEU DEUS! SEJA O QUE DEUS QUISER...MISERICÓRDIA!". E rimos de nossa ansiedade e apreensão.Sem muitas delongas, o levamos pra sala e dessa vez só eu o acompanhei.
Cantamos e tentamos a bola. Guilherme NUNCA gostou de bola, sempre gostou de círculos. Eu explico: ele pega as rodas de um carrinho e gira com os dedos; gosta de rodar em seu proprio eixo, gosta de movimentos circulares com as mãos. Mas BRINCAR de bola, de chutar ou de pelo menos PEGAR E JOGAR aleatoriamente, nunca. Mas só até hoje.
Guilherme jogou a bola, foi reforçado todas as vezes que a jogava e se sentia envaidecido com os elogios, pois ria timidamente e me dava um abraço.
Após a bola, pediu pra sair, mas sem insistir como das outras vezes, e se conformou com a negativa. Isso já foi um avanço MUITO grande.
Deu-se conta do computador e visivelmenete à vontade (em 10 minutos de sessão ele brincou com a bola, riu, deu gritinhos de alegria, tentou subir na maca e começou a mexer no computador do consultório) sentou-se para "teclar". Aproveitando o interesse, fui orientada a ficar recuada na sala e a profissional tomou as rédeas da sessão, e pasmen, ele deixou! Sequer tava se importando se eu estava ali ou não. Aceitou reforços de beijos dela e aprendeu a apertar sozinho para passar uma apresentação educativa com o alfabeto no powerpoint. Repetiu umas 3 vezes os slides.
Ela o tirou do computador SEM CHORO (quem chorou fui eu de ver meu pequeno tão rapaz, tão participativo!) e brincaram de bolinha de sabão (que ele ADORA). Ele tentou voltar ao computador, mas não esboçou frustrações por perceber que aquele "brinquedo" não estava mais á sua disposição, e retornava á bola ou às bolinhas de sabão tranquilamente.
Chegou a um nível de adaptação ao ambiente tão grande, que ja estava balbuciando as musiquinhas dele, provocando um misto de emoção e orgulho nessa mãe besta que vos fala e na profissional.
Ao sair do consultório, vovó nos aguardava com um semblante de quem sabia que tinha sido um sucesso e orgulhosa de ver os resultados.
Hoje, estamos confiantes de que nosso pequeno é inteligente, pode nos surpreender e tem facilidade em alguns pontos que para outras crianças são críticos.
Sei que não será assim em toda sessão, sei que teremos dias de pouco resultado e dias melhores, mas cada coisa no seu tempo, e hoje é dia de comemorar!
Obrigada a todos que passam por aqui, aos amigos próximos que abraçam, beijam e cheiram a causa como se fossem sua, e mais que tudo, obrigada à minha mãe por SEMPRE. Por melhor filha que tente ser daqui pra frente, eu JAMAIS conseguirei retribuir tudo que faz por nós se doando tanto.

Beijão!

6 comentários:

  1. Fiquei muito feliz e emocionada lendo seu post, um grande beijo e um milhão de cheirinhos no Gui.

    ResponderExcluir
  2. Que bacana, Jôse!! Torcendo por mais conquistas do Gui!! Bjo

    ResponderExcluir
  3. Amiga!
    Fiquei mto emocionada ao ler tuas palavras, consegui imaginar tudinho que se passou, também, com tanta riqueza de detalhes que descreveu, nossa...
    Parabéns, flor, pelo filho maravilhoso, pela sua paciência e dedicação, pela MÃE com letras maiúsculas que vc é!
    Beijos!
    Nat

    ResponderExcluir
  4. Ai Jose, só eu conversando pessoalmente contigo pra te falar todas as emoções que sinto lendo seus post's...

    ResponderExcluir
  5. Como ficou sabendo que seu filho tem autismo, através de qual profissional.

    ResponderExcluir
  6. Boa Noite! Fique tranquila que é assim mesmo. Sou fonoaudióloga e atendo somente autistas. Após a criança acostumar com o lugar estranho e perder o medo do desconhecido, conseguimos tudo com eles e é muito gratificante o 1º sorriso, 1º abraço, o 1º som...nossa!! como é maravilhoso ser Fono!
    abraços
    Drª Simone de Paula Souza
    Fonoaudióloga

    ResponderExcluir

Participe!