terça-feira, 29 de março de 2011

Crise x Birra

Uma das maiores dificuldades que  pais e familiares de autistas têm é o ostracismo da síndrome, a falta de informação e cobranças da sociedade acerca dos comportamentos considerados "inadequados".
Não sei outras famílias, pois cada autista é um autista, mas a situação mais chata e constrangedora que passamos no dia a dia é no quesito "birra".
Guilherme ainda não fala, então nos usa para se comunicar não-verbalmente. No entanto, quando não consegue se fazer entender, ou quando algum evento o assusta, quando existe alguma coisa que ELE interpreta como negativo e nós não temos como saber NA HORA (principalmente quando se manifesta pela primeira vez), ele se joga no chão, chora MUITO, joga os membros para todos os lados, chutando freneticamente e gritando, identicamente à uma criança mal educada, mimada e birrenta.
Vamos esclarecer uma coisa: autistas também às vezes são mimados, mal educados e têm crises de birras. A diferença é que o autista quando entra em crise, não é uma birra. E só os pais e alguns profissionais que CONHECEM a criança que sabem diferenciar uma coisa de outra.
É muito CHATO e constrangedor você ter que acalmar sua cria, tentar mudar seu foco, tirá-lo da crise e a sociedade te cobrar um comportamento adequado naquele momento, cobrando-lhe inclusive que lhe dê um corretivo, afinal, no Brasil, é cultura da "palmadinha NADA educativa", e  segundo os sábios detentores dessa educação super funcional, se não bater nele, ele me baterá.
Pena que no autismo isso é FATO. Em crise, ele torna-se agressivo e bate MESMO. Bem na minha cara (olha só como tudo é uma questão de contexto). Não é uma questão de ser certo, apenas meu filho age assim por NÃO CONSEGUR ainda se comunicar e não entender determinadas situações. A frustração gera agressividade, e quando conhecemos a situação, quando não somos tomados pelo preconceito e buscamos APRENDER acerca de uma determinada coisa, aprendemos também a RESPEITAR as pessoas que não agem tal qual esperamos ou achamos que devam agir.
O autista precisa de respeito, entendimento, e não de julgamentos e olhares reprovadores aos pais, que naquela situação já estão com uma carga enorme de stress. Como diz a máxima: "se não for ajudar, não atrapalhe".
Claro que observamos a vida do outro, é carnal, é humano. Mas é mais delicado perguntar, a reprovar previamente e condenar os pais com olhares e comentários desnecessários.
Para fins esclarecedores, sim, é possível "controlar" essas crises através de terapia, fono, atividades extra curriculares e vivências, mas requer tempo, e ainda assim, pode ser que existam crises mais espaçadas, porém existentes.
Com amor, dá pra incluir.
Beijão, e obrigada :)

P.S: O post está direcionado à Guilherme, mas até por ser um autista clássico, cabe também a várias crianças com autismo ou outras síndromes.

2 comentários:

  1. Levei um tapa com luvas de pelica! Como vc mesmo disse, somos seres humanos e julgamos sem saber a causa...vergonha!! Se eu olhasse o Guilherme tendo um ataque de "birra" num supermercado, por exemplo, eu com certeza diria: gente, que menino mimado, mal educado, se fosse o meu...rá!
    A partir de hoje, EU NÃO JULGAREI MAIS! Pelo simples fato de não conhecer a causa! Obrigada!

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  2. criança não deve sofrer, e birra é sofrimento seja a criança autista ou não. O difícil é saber como educar sem ter "pena" da criança. Quando digo pena é ficar pensando que a criança é doente e por isso muito pais tem medo de dizer não ao filhos.

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