sábado, 23 de outubro de 2010

Da gravidez ao autismo.

A gravidez é um momento pleno, cheia de sensações únicas e muita imaginação.
Temos muitos planos em mente, fazemos todos os exames necessários para garantir que está tudo bem com a cria. E a cada resultado considerado "normal", um suspiro de alívio equivalente é dado.
Quando alguma coisa foge à naturalidade ainda na gravidez, inicia-se uma nova fase. Culpa, luto, barganha, negação (não necessariamente nessa mesma ordem), um novo planejamento, busca precoce de tratamento, informações, possibilidades, qualidade de vida e toda e qualquer coisa que alivie a dor dos pais e da criança que virá.
Não que seja mais fácil, mas já se sabe, e de alguma fora, já se espera.
No entanto, existem casos como o nosso. Tudo normal, gravidez saudável, pressão ótima sem oscilações, pré natal acompanhado, parto idem. Nasce uma criança saudável, sem necessidade de encubadora, apgar 10, teste do pezinho, do olhinho, vacinas em dia.
Aos 4 meses, intolerância à lactose descberta. Mas com o controle da dieta, vida normal. Sentou, ficou de pé cedo e andou antes de completar 1 ano.
Tudo normal. Com 1a6m entrou na creche, pois percebi que ele era muito apegado à mim e precisava ver gente, conviver com crianças da mesma idade.
Após 2 meses de creche, fui chamada pela coordenadora, pois ela suspeitava que algo estava errado com o Guilherme. Ele parecia ter algum problema auditivo, pois não atendia quando chamado, não cumpria ordens, e parecia perdido no tempo, como se fosse um mundinho onde só ele vivia. Sem contar que nessa idade ele nada verbalizava, apenas balbuciava sem qualquer significado.
Buscamos um fonoaudiólogo e foram pedidos exames da orelhinha e Peate, feitos, e sem resultado comprometedor. EU já sabia! O Guilherme desde bem bebê era capaz de acordar com uma agulha caindo, mas se não lhe interessasse, poderíamos gritá-lo e ele não manifestava interesse algum.
Vale ressaltar que pediatras, médicos e fonoaudiólogos foram unânimes em nos dizer para NÃO TER PRESSA, AFINAL, CADA CRIANÇA TEM SEU TEMPO. E que até os 2 anos era NORMAL ainda não falar, então, fomos esperá-lo chegar aos dois anos, pois segundo relatos de vizinhos, amigos e afins, "fulano só falou com 5 anos!", "jajá ele fala! fulana só falou com 3 anos!", e assim sucessivamente.
A mesma coordenadora tem um sobrinho com autismo e me ventilou essa possibilidade quando o Guilherme completou 2 anos e NADA DA FALA CHEGAR.
É uma tendência NATURAL do ser humano negar, se ater ao último fio de esperança e esperar até um milagre. Mas dentro do meu coração, sabia que tinha algo errado. Eram muitas evidências, muitos sinais, mas EU não queria aceitar, afinal, se tanta gente fala depois dos 2 anos porque o meu filho não poderia? Sonhava em acordar um belo dia e ele dizer "mamãe, quero comer um estrogonoff em forma de paralelepipedo agindo inconstitucionalissimamente".
Depois de uma segunda consulta com outro fonoaudiólogo, fomos encaminhados ao neuro, o que desencadeou a inspiração à espera da expiração tranquilizadora. Foram 3 meses para conseguir fazer o eletroencefalograma, pois é um exame de longa duração, complicado, e o Guilherme tem a síndrome do jaleco.
Não deu NADA. Resultado totalmente normal. E mais uma esperança se renasceu, até verificar que o autismo (que agora era uma suspeita bem paupável) não era identificado por exames dessa natureza, porém, ainda esperava o milagre da fala da noite pro dia (como se ESSE fosse o único indicador. E eu sabia que NÃO ERA).
Paralelo à isso, recebi o convite de ir à SP para buscar emprego e levar o Guilherme para caso desse tempo, fazer alguns exames e verificar uma forma dele "falar logo".
Chegando lá, Deus nos encaminha pro caminho correto. Com três dias, o foco mudou totalmente. As pessoas que me recepcionaram perceberam que poderia MESMO ser autismo, e comecei a buscar ajuda com médicos e contatos.
Um anjo em SP, amiga dos tempos de gravidez, contando pra ela toda a história - coincidências não existem - me falou sobre uma pessoa conhecida da família. Uma psicóloga que tinha acabado de chegar do exterior e tem especialidade de muitos anos em autismo.
Ao consulta-lo, ela logo foi me mostrando os espectros mais claros, a vantagem dele ter facilidade de interação e o pré diagnóstico de autismo em grau leve.
Uma coisa é uma suspeita e ficar agarrado a esperanças. Outra coisa totalmente diferente é ter o diagnóstico ali na sua frente com todas as evidências. Digerir isso longe da minha família, do meu marido, dos meus amigos de minha convivência diária foi difícil, inclusive por fatores que não cabem aqui nesse blog, e nesse momento da história.
De lá pra cá, vocês têm lido os acontecimentos, avanços, dúvidas, dificuldades, felicidades e afins.
Como o post já está bastante longo, continuarei no próximo acerca dos sentimentos envolvidos, a relação da família e todo o resto dessa história de amor e dor. Como tudo na vida.

Beijos

Um comentário:

  1. A caipira urbana, codinome manteiga derretida espera aos prantos o novo post. Ressaltando q aquele dia q vc jogou na minha cara..."to em SP, vim fazer uns exames no Gui, ele foi diagnosticado como austista, to indo embora amanhã cedo, tchau..."
    Juro q ñ consegui dormir...
    Enfim, to esperando o próximo post....

    Amo msm
    :******

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